Achei este texto, em meus arquivos bagunçados, muito esclarecedor do Celso Unzete, de 2006. Jornalista que admiro muito...
Pra movimentar esse blog, pois o cheiro de Naftalina já está enjoando
Onde mora a grandeza?
A ressurreição do América carioca, finalista da Taça Guanabara após duas décadas de ostracismo, faz ressurgir uma velha questão do futebol: o que caracteriza um time grande? Se são as atuações do presente, o simpático Ameriquinha, ao alcançar uma colocação à frente de Fluminense, Vasco e Flamengo, acaba de voltar a sê-lo. Se são as glórias do passado, nunca deixou de sê-lo.
Além de campeão “de 13, 16 e 22”, como lembra a letra do hino do clube, composto pelo genial músico americano Lamartine Babo, o time ganhou também os Campeonatos Cariocas de 1928, 1931, 1935 e 1960, totalizando sete títulos estaduais. Foi ainda campeão da Taça dos Campeões, um torneio organizado pela CBF que reuniu 16 dos principais clubes do país no hiato entre o final do Brasileiro e o início da Copa do Mundo da Espanha, em 1982. E teve um sem-número de jogadores de destaque no futebol nacional, do legendário zagueiro Belfort Duarte, nos anos 10, ao ponta-de-lança Edu, o irmão de Zico, entre as décadas de 60 e 70.
No entanto, depois de ser semifinalista do Campeonato Brasileiro em 1986, o América nunca mais brilhou. Até chegar às semifinais da Taça Guanabara deste ano e, na última quarta-feira, colocar 7 mil pessoas no Maracanã — público raríssimas vezes obtido, por exemplo, pela Portuguesa, em São Paulo, a equipe com a qual o time carioca sempre foi comparado ao longo de sua história quando o assunto era a baixa popularidade de ambos.
Onde mora, então, a grandeza? Trata-se de uma questão internacional. Quando o Vélez Sarsfield do goleiro paraguaio Chilavert ganhou a Libertadores e o Mundial de Clubes, em 1994, lembro-me de ter acompanhado uma polêmica na revista El Gráfico, da Argentina, sobre o surgimento de um “sexto grande”. Porque grandes, para eles, os argentinos, sempre foram: a dupla Boca e River; a dupla Independiente e Racing; e o San Lorenzo de Almagro, que, a despeito de não ter até ali nenhuma conquista internacional, sempre gozou dentro de casa de muita torcida e tradição. A ascensão do Vélez, àquela altura, subvertia essa lógica. Tradicional equipe de bairro, o Vélez Sarsfield sempre esteve mais para Juventus da Mooca que para Corinthians, mais para Bangu que para Flamengo. Pelo que sei, nossos vizinhos não conseguiram chegar a um consenso sobre o assunto até hoje. Até porque, anteriormente, em 1968, o Estudiantes de La Plata também havia sido campeão mundial, sem que ninguém ouvesse articulado um movimento para sua “promoção” como este para o Vélez.
Recentemente, o jornalista Flávio Gomes, na ESPN Brasil, às vésperas do último jogo entre Corinthians e Portuguesa, defendia, a despeito da duradoura má fase da Lusa, o tratamento daquela partida como um clássico. Segundo ele, o que caracteriza um clássico — e não só no futebol, mas na música ou no cinema, por exemplo — é a tradição pregressa no confronto, e não necessariamente o momento bom ou ruim pelo qual uma ou as duas equipes passam. Nesse contexto, o da história embutida, Corinthians e Portuguesa é, sim, um clássico. Mas Corinthians e São Caetano jamais. Essa tradição no confronto conta tanto que transcende, até, a grandeza bilateral para caracterizar o clássico. Santos e Portuguesa Santista, Juventus de Turim e Torino, Barcelona e Espanyol fazem incontestáveis clássicos locais, sem que seja preciso dizer quem é maior e quem é menor em cada um desses confrontos.
Concordei em 100% com o Flávio até ouvir uma observação de outro amigo jornalista, Roberto Benevides. Lembrou-me o Bené que, um dia, os jogos dos atuais grandes do Rio de Janeiro contra o São Cristóvão também foram considerados clássicos. Até o dia (ou os dias, a época) em que o outrora glorioso São Cri-Cri, campeão carioca de 1926, apequenou-se de vez. Gerações passaram e vieram sem considerar o São Cristóvão na ordem do dia. E eu passei a entender que, além da tradição embutida, um clássico (ou um time grande) têm também a obrigação de mantê-la. Ou de, de tempos em tempos, reavivá-la, como o América está fazendo agora.
Celso Unzete em sua coluna no Yahoo!Esportes
Celso Unzete é jornalista, corinthiano roxo e faz parte do programa "Loucos por futebol" da ESPN Brasil
Pra movimentar esse blog, pois o cheiro de Naftalina já está enjoando
Onde mora a grandeza?
A ressurreição do América carioca, finalista da Taça Guanabara após duas décadas de ostracismo, faz ressurgir uma velha questão do futebol: o que caracteriza um time grande? Se são as atuações do presente, o simpático Ameriquinha, ao alcançar uma colocação à frente de Fluminense, Vasco e Flamengo, acaba de voltar a sê-lo. Se são as glórias do passado, nunca deixou de sê-lo.
Além de campeão “de 13, 16 e 22”, como lembra a letra do hino do clube, composto pelo genial músico americano Lamartine Babo, o time ganhou também os Campeonatos Cariocas de 1928, 1931, 1935 e 1960, totalizando sete títulos estaduais. Foi ainda campeão da Taça dos Campeões, um torneio organizado pela CBF que reuniu 16 dos principais clubes do país no hiato entre o final do Brasileiro e o início da Copa do Mundo da Espanha, em 1982. E teve um sem-número de jogadores de destaque no futebol nacional, do legendário zagueiro Belfort Duarte, nos anos 10, ao ponta-de-lança Edu, o irmão de Zico, entre as décadas de 60 e 70.
No entanto, depois de ser semifinalista do Campeonato Brasileiro em 1986, o América nunca mais brilhou. Até chegar às semifinais da Taça Guanabara deste ano e, na última quarta-feira, colocar 7 mil pessoas no Maracanã — público raríssimas vezes obtido, por exemplo, pela Portuguesa, em São Paulo, a equipe com a qual o time carioca sempre foi comparado ao longo de sua história quando o assunto era a baixa popularidade de ambos.
Onde mora, então, a grandeza? Trata-se de uma questão internacional. Quando o Vélez Sarsfield do goleiro paraguaio Chilavert ganhou a Libertadores e o Mundial de Clubes, em 1994, lembro-me de ter acompanhado uma polêmica na revista El Gráfico, da Argentina, sobre o surgimento de um “sexto grande”. Porque grandes, para eles, os argentinos, sempre foram: a dupla Boca e River; a dupla Independiente e Racing; e o San Lorenzo de Almagro, que, a despeito de não ter até ali nenhuma conquista internacional, sempre gozou dentro de casa de muita torcida e tradição. A ascensão do Vélez, àquela altura, subvertia essa lógica. Tradicional equipe de bairro, o Vélez Sarsfield sempre esteve mais para Juventus da Mooca que para Corinthians, mais para Bangu que para Flamengo. Pelo que sei, nossos vizinhos não conseguiram chegar a um consenso sobre o assunto até hoje. Até porque, anteriormente, em 1968, o Estudiantes de La Plata também havia sido campeão mundial, sem que ninguém ouvesse articulado um movimento para sua “promoção” como este para o Vélez.
Recentemente, o jornalista Flávio Gomes, na ESPN Brasil, às vésperas do último jogo entre Corinthians e Portuguesa, defendia, a despeito da duradoura má fase da Lusa, o tratamento daquela partida como um clássico. Segundo ele, o que caracteriza um clássico — e não só no futebol, mas na música ou no cinema, por exemplo — é a tradição pregressa no confronto, e não necessariamente o momento bom ou ruim pelo qual uma ou as duas equipes passam. Nesse contexto, o da história embutida, Corinthians e Portuguesa é, sim, um clássico. Mas Corinthians e São Caetano jamais. Essa tradição no confronto conta tanto que transcende, até, a grandeza bilateral para caracterizar o clássico. Santos e Portuguesa Santista, Juventus de Turim e Torino, Barcelona e Espanyol fazem incontestáveis clássicos locais, sem que seja preciso dizer quem é maior e quem é menor em cada um desses confrontos.
Concordei em 100% com o Flávio até ouvir uma observação de outro amigo jornalista, Roberto Benevides. Lembrou-me o Bené que, um dia, os jogos dos atuais grandes do Rio de Janeiro contra o São Cristóvão também foram considerados clássicos. Até o dia (ou os dias, a época) em que o outrora glorioso São Cri-Cri, campeão carioca de 1926, apequenou-se de vez. Gerações passaram e vieram sem considerar o São Cristóvão na ordem do dia. E eu passei a entender que, além da tradição embutida, um clássico (ou um time grande) têm também a obrigação de mantê-la. Ou de, de tempos em tempos, reavivá-la, como o América está fazendo agora.
Celso Unzete em sua coluna no Yahoo!Esportes
Celso Unzete é jornalista, corinthiano roxo e faz parte do programa "Loucos por futebol" da ESPN Brasil
3 comentários:
Blog bem estruturado
Postagens excelentes
Visual de tirar o fôlego
O vermelho é a cor da fome
Impossível não ficar ligado
Sucesso cara
Esperamos sua visita
Vamos torcer para que nosso America faça um bom trabalho, né?
Saudações rubras.
Elida Kronig
necessario verificar:)
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